09 jul Autoestima aos quarenta
Depois que meus filhos nasceram minha autoestima estava no chão. Eu tinha acabado de entrar nos quarenta. Meu corpo tinha passado por duas cesáreas seguidas e as olheiras denunciavam os anos sem dormir direito. Vivia encurvada porque ficava muito tempo na frente do computador e quase não fazia exercícios. Com a alimentação e os hormônios todos bagunçados, minha pele estava cheia de espinhas e alergias.
Para levantar a minha moral, decidi cortar os cabelos e pintar de loiro. Mas os fios ressecaram e armaram. Senti-me pior ainda. E tinha que conviver com os palpites das pessoas que falavam do meu cabelo. No dia dessa foto, eu fui num show. Para me sentir melhor, fiz escova e me maquiei. Mas na fila, uma mulher me perguntou se eu estava grávida. Era algo que eu também sempre ouvia das pessoas. Eu vivia encurvada e com a barriga pra frente. Por isso, sempre me faziam essa pergunta. E eu ficava arrasada.
Recuperar a barriga e a postura no pós-parto pode demorar. E tá tudo bem. A questão é que muita gente gosta de fazer comentários sobre a aparência do outro. Sem saber a luta interna que aquela pessoa trava para se aceitar.
Eu brigo com o espelho desde criança. Nós, mulheres, não somos ensinadas a ter amor-próprio. E encarar isso dói. O problema com a aparência é apenas uma das facetas da baixa autoestima e a que mais atinge as mulheres. Mas a baixa autoestima é muito mais que isso. Ela está na nossa essência. Na menina que fomos um dia.
Não aceitar-se, sentir-se deslocada nos grupos, sentir-se burra, incapaz, incompetente no ambiente de trabalho, ser exigente demais consigo mesma, dar prioridade aos sentimentos e desejos dos outros. Não saber dizer não. Tudo isso é ligado à baixa autoestima.
Eu fui uma criança tímida, que só pensava em maneiras de ser aceita. Nem que para isso eu me machucasse, me magoasse. Eu cresci e minha criança interior ficou dentro de mim. E assim, passei a vida repetindo padrões de comportamento errados. Porque me sentia inferior. Porque achava que precisava agradar aos outros.
Vivemos numa sociedade misógina, racista e de aparências. Isso tudo leva a uma pressão enorme por um estilo de vida “bem-sucedido” focado em status, beleza e poder. Todos os dias, milhares de crianças e adolescentes são bombardeados com uma série de propagandas e discursos que mostram que só o “bonito” se dá bem. Só o “bonito” tem popularidade. Tem alguma coisa muito errada. Isso é horrível.
As taxas de suicídio entre jovens estão nas alturas, em diversas partes do mundo. Meninas tentam se adaptar aos padrões de beleza para ter “sucesso” na vida amorosa, nas redes sociais, na escola. Quem não se encaixa ou não quer se encaixar nesses padrões, sente-se inadequado.
Para as mulheres, a pressão também é grande. A baixa autoestima nos leva, por exemplo, aos relacionamentos tóxicos. Por achar que não merecemos alguém legal. Por valorizar as pessoas e as coisas erradas.
Com a chegada da maternidade, somos pressionadas a nos dividir em vários papéis e provar que damos conta: boa mãe, boa esposa, uma mulher que “se cuida”, não engorda. E vejam só, ainda por cima boa profissional!
A verdade é que eu não dei conta deste combo. Eu não aguentei tanta pressão. Porque pela primeira vez me coloquei em primeiro lugar. A autoestima está diretamente ligada ao amor-próprio, ao autoconhecimento e ao autocuidado. E sabe de uma coisa? Sou mais feliz agora do que aos vinte e cinco anos, quando só pensava em ser perfeita.
Eu sei do imenso privilégio em entender tudo isso e me curar. Por isso, o mínimo que posso fazer é relatar tudo o que eu vivi e aprendi.
Agora, depois dos quarenta, aprendi a me amar. Percebi que meus filhos só vão ter uma boa autoestima se eu estiver bem. Eu sou o modelo deles. Então, decidi fazer as pazes comigo. E celebrar a vida feliz com as minhas imperfeições. Quero que meus filhos tenham a consciência de que a beleza é algo subjetivo e não é necessário se encaixar em padrões. Espero estar no caminho certo.
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