Escreva sua história: como praticar a escrita terapêutica

Escreva sua história: como praticar a escrita terapêutica

Quando era criança e algum acontecimento me marcava, precisava escrever o que tinha sentido. Também me recordo dos cadernos de poesia da adolescência. E dos fluxos de consciência que registrei em diários na vida adulta.

Ao tornar-me mãe, o desejo de desaguar em palavras virou mar. Cresceu feito uma onda que precisava quebrar na areia e arrastar os sentimentos que emergiram em mim. Então, escrevi os textos do meu primeiro blog, o “Sabático de mãe.” Eles ficaram vários meses arquivados no meu computador antes de ter coragem de publicá-los. Se não quisesse, talvez não precisasse mostrar para outras pessoas. Somente o gesto de escrever sobre os sentimentos que me atravessaram na maternidade já serviriam como uma ferramenta de autoconhecimento.

E a escrita terapêutica é isso: uma prática para se conhecer. Uma forma de colocar os pensamentos em ordem. Desfazer o caos mental. O objetivo é colocar as emoções no papel. E ao observar nossos escritos de forma palpável, conseguir entender como reagimos às situações da vida.

Os benefícios são vários! Além de organizar as ideias e se autoconhecer, o hábito de escrever também ameniza o estresse e a ansiedade.

Começar na escrita terapêutica pode ser um desafio. Parece que para quem trabalha com escrita, tende a ser mais fácil. Mas a verdade é que não. Jornalistas, roteiristas e escritores são mais rígidos. É preciso deixar a vontade de fluir as palavras. Ser menos rocha e mais água.

Por isso, se você é mãe e busca uma atividade terapêutica, aconselho a escrita. Escreva sua história!

 

 

Escritoterapia

Nos anos 60, o psicólogo americano Ira Progoff estabeleceu pela primeira vez o Método de Diário Intensivo, que consistia, de fato, em escrever um diário. Desde então, diversos estudos apoiam a utilidade da escrita, que se converteu em algo cada vez mais comum.

Um dos grandes estudiosos da escrita terapêutica foi outro psicólogo americano, James W. Pennebaker. Ele fez uma pesquisa que comprovou como essa prática pode ser útil para ter uma mente e um corpo mais saudáveis.

Nos anos oitenta, Pennebaker reuniu um grupo de pessoas e as orientou a escrever sobre si durante quinze minutos. Sem intervalos e sem se preocupar com regras gramaticais e ortografia.

Ele separou esse grupo em dois: um seria o experimental, o qual escreveria sobre sentimentos, emoções e pensamentos.

Já o outro, que o psicólogo chamou de “controle”, deveria escrever sobre um trauma de forma racional, sem demonstrar sentimentos e focando mais na descrição do que nas emoções.

O resultado foi que o grupo experimental fez menos consultas médicas nos meses seguintes. Apesar de ter sido difícil confrontar e expor certos sentimentos na escrita, depois do processo eles relataram que foi um ótimo método para acessar e lidar com as emoções.

Através da escrita, é possível revisitar traumas e falar sobre coisas que você tem medo de falar em voz alta. Isso faz com que se compreenda melhor e comece a lidar com esse problema.

Outro benefício da escrita terapêutica é a melhora nas condições físicas.

Muitos estudos já foram feitos com pacientes que tinham doenças como asma, câncer, reumatismo, artrite e outras. E foi comprovado que essas pessoas tiveram uma melhora em seus quadros depois de começarem a praticar a escrita terapêutica.

Uma pesquisa feita pelo The Journal of the American Medical Association testou o mesmo exercício de escrita realizado por James Pennebaker em mais de cem pacientes com asma e artrite reumatóide. Os pacientes que escreveram sobre seus traumas tiveram melhoras nas avaliações de saúde relacionadas às suas doenças.

Alguns benefícios comprovados da escrita terapêutica:

  • Entrar em contato com traumas;
  • Aliviar o estresse;
  • Lidar com a ansiedade;
  • Se conhecer melhor;
  • Lidar com lutos e perdas;
  • Refletir sobre casos de saúde;
  • Compreender questões de relacionamento;
  • Desenvolver habilidades de auto expressão;
  • Melhorar a autoestima.

 

Dicas para começar

1. Separe um caderno específico para escrever. Ter um lugar certo para colocar seus pensamentos vai incentivar você e facilitar que comece e continue com o hábito. Invista em um caderno que ache bonito ou personalize um que já tenha em casa. O importante é separar um espaço para a escrita. Talvez você esteja pensando: Posso escrever no celular ou no computador? Claro que sim, mas seria bom escrever com caneta, no papel, para que você não corra o risco de se distrair com eletrônicos e redes sociais.

2. Escolha um horário tranquilo. Escrever em horários agitados ou com muitas pessoas ao redor não é uma boa. Dessa forma, talvez você não consiga chegar a insights ou aprofundar seus pensamentos. Por isso, escolha uma hora em que você possa se concentrar na escrita.

3. Seja constante. Talvez tenham dias em que você não queira escrever. Tudo bem. Vá inserindo o hábito na sua rotina aos poucos. Escrever é prática, assim como qualquer atividade. Só nos desenvolvemos e percebemos o progresso com a constância. Não desista!

4. Liberte-se dos padrões. A escrita terapêutica deve ser um porto seguro. Não se preocupe em seguir regras gramaticais, vocabulário difícil ou estilo literário. A ideia é que seja um espaço de liberdade, em que você coloque seus sentimentos no papel. Deixe sua escrita ser livre!

 

 

Ideias para praticar

Não sabe como praticar? No meu caso, comecei com relatos sobre o meu despertar com a maternidade. Mas você pode escrever sobre qualquer tema e no formato que quiser! Tem gente que gosta de escrever cartas, acho bem divertido! Pode escrever cartas para você mesma ou para alguém com quem você não consegue se expressar. O tipo de escrita pode ser o da sua preferência: um diário, poemas, contos. O importante é deixar os pensamentos fluírem.

Não se preocupe com a estética, nem trave seus sentimentos. Escreva o que sua intuição pedir, nem que pareça meio confuso. Mantenha o foco nas suas emoções. Seja honesta com você mesma.

Tenho muita facilidade com diários. Adoro escrever em primeira pessoa. O que faço é muito relacionado com o journaling (termo que é derivado de journal, diário em inglês). Faço anotações pessoais sobre acontecimentos do meu dia, emoções, pensamentos, sonhos e planos. É um hábito de autocuidado que coloquei na minha rotina.

Tem gente que vai além da escrita e incrementa a atividade com colagens, desenhos e pinturas. Dessa forma, o momento da escrita também se transforma numa expressão da criatividade visual. Acho a ideia incrível. Assim você pode desenvolver um art journal, um diário artístico!

Também sou adepta da Mandala Lunar, um diário que convida à reflexão sobre as fases do ciclo menstrual e da vida da mulher,

conectadas com a natureza. A mandala ajuda a praticar a auto-observação e cultivar o hábito do registro diário. Vou deixar o link do site da mandala aqui. https://www.mandalalunar.com.br/

 

Mais presença

Escrever nos ajuda na conexão com nossa presença. A aumentar a consciência sobre nossas emoções e sentimentos. Depois de entrar em contato com nossos pensamentos através da escrita, conseguimos elaborar caminhos e buscar soluções para os nossos problemas.

A escrita terapêutica é hoje meu principal autocuidado. Foi o que me salvou de mim mesma durante vários momentos difíceis da maternidade. É como se precisasse dessa limpeza interna para entender meu passado, estar no presente e olhar com otimismo para o futuro. Te convido a caminhar comigo nessa jornada. Vamos juntas?

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