A liberdade é azul, a igualdade é rosa

A liberdade é azul, a igualdade é rosa

Igualdade de gêneros. Eu nunca tinha pensando muito no assunto, até virar mãe de menino e de menina. Agora, sei que tenho a missão de criar dois filhos de gêneros diferentes da mesma maneira. E não dar privilégios ou passar a mão na cabeça por causa do sexo de cada um.

Comecei a ler e pesquisar sobre o assunto em busca de informações. Confesso que ainda estou cheia de dúvidas na minha cabeça.  Tenho condicionamentos e couraças acumulados durante toda a minha vida.

São aqueles velhos conceitos que passam para gente ainda na infância: menina brinca de boneca. Menino de carrinho. Azul é de menino. Rosa é de menina. Menina não pode. Menino pode. Conceitos que chegam à vida adulta cheios de novas mensagens subliminares, mas que, na essência, se resumem a: “mulher nasceu para cuidar, homem para explorar o mundo”.

Eu cresci num lar bem machista. Minha mãe era semianalfabeta. Não completou nem o primário. Virou dona de casa por falta de escolha. Ela aprendeu cedo que sua função era servir o pai e os irmãos. E depois, o marido.

Meu pai queria um filho “homem”. Nasceu uma menina: a minha irmã. Seis anos depois, minha mãe engravidou outra vez. E meu pai torceu: “Ah, agora vai ser um garotão!” Mas nasceu outra menina: eu.

Passei parte da infância usando cabelos curtos e roupas de menino para agradar ao meu pai. Queria provar que podia ser tão boa quanto um garoto.  Ficava louca pra brincar na rua de pipa, pega- pega e esconde-esconde. Mas nessas horas, meu pai lembrava que tinha filha e me proibia de brincar com os meninos. Nunca me esqueço do olhar dele de reprovação quando me pegava correndo no meio da rua com a molecada.

Hoje tenho meu próprio olhar sobre tudo isso. Depois de viver o machismo na pele desde a infância, tornei-me mãe de menino e de menina. E quero fazer diferente. Por isso, aqui em casa instituí o reino da igualdade. Não tem brinquedo de cada um. Tá tudo liberado: carrinhos e bonecas para os dois.

O Rafael, meu filho mais velho, gosta de cor de rosa. Eu e o pai dele achamos que rosa é só uma cor entre tantas que colorem o nosso mundo, certo? Então, quando o Rafa foi a uma loja comigo e pediu um bichinho de pelúcia rosa, eu comprei. Quando alguém na escola diz a ele que rosa é de menina, eu aconselho meu filho a continuar gostando da cor que quiser.  E não dar ouvido para os outros.

Dia desses, meu marido descobriu que o rosa só começou a ser adotado como símbolo feminino na cultura ocidental muito recentemente.  No Japão, é muito comum tanto homens como mulheres usarem a cor.

Quando a Clara nasceu, não quis furar as orelhas dela. Para mim, isso já era a primeira interferência desnecessária que eu poderia fazer no corpo da minha filha.  Por que continuamos marcando as meninas com dor e vaidade? Será que não é o primeiro ato machista contra alguém que acabou de chegar nesse mundo já tão preconceituoso? Eu acho que sim.

A  Clarinha adora vestir as roupas largas do irmão. Odeia aqueles lacinhos e frufrus de menina, desde que era bebê. Eu não me importo nenhum pouco com isso. Eu também era assim. Não queria nada me apertando. Queria me sentir livre. Livre dessas amarras que nos prendem desde crianças.

Meninos e meninas são iguais. Não importa qual sejam suas escolhas e gostos pessoais. É nisso em que eu acredito.

Eu e meu parceiro já temos planos de colocar o Rafa e a Clara para aprender artes marciais. Ah, e se depender de mim, os dois também vão juntos para o ballet !

Outro dia, levamos às crianças a um parque de diversões. A Clara adorou os carrinhos  e cavalos do carrossel.  O Rafa amou um brinquedo com elefantinhos voadores. Correu para escolher o rosa.

Vai filho, voa para onde quiser.  E você também filha.  Que a vida seja colorida de rosa e azul e de todas as cores do mundo para vocês. E que vocês aprendam a lutar pelos seus direitos, mas também a respeitar as diferenças. Porque afinal, elas não existem.

 

 

 

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