A quarta onda

A quarta onda

Sou uma mãe feminista desconstruída e em construção. Falo isso porque sou jornalista com vinte anos de carreira, mas dona do lar por escolha. O que parece uma incoerência para alguns. Meu marido trabalha fora e eu em casa. Assim como já ocorreu a situação inversa, dele trabalhar em casa e eu fora.

Foi a partir da escolha de desacelerar para estar mais presente na vida das crianças que moldei a minha rotina nos últimos anos. E foi uma escolha pessoal.

Neste espaço, quero sim falar sobre feminismo. Mas aquele que está no dia-a-dia e que pode mudar nossas vidas. O feminismo inclusivo tá aí para mostrar às novas famílias que o “cuidar” tem que vir de TODXS. O cuidar dos filhos, da casa, das roupas. Porque o lar é de TODXS, não? Por aqui funciona assim: um cuida do outro. E todos nós cuidamos do nosso espaço.

Eu percebo que falar nesse assunto ainda deixa a maioria das pessoas perturbadas. Algumas mulheres sabem que fazem mais dentro de casa, aceitam e deixam pra lá. Desistiram de lutar. Muitos homens, por sua vez, brincam de “filhinho da mamãe” com suas parceiras. Gostam da situação cômoda de jogar toda a carga mental e afazeres domésticos em cima da mulher. Afinal, ser um “homão da porra” não é mesmo para qualquer um.

Não lidamos com o machismo dentro dos nossos lares de classe média. Porque se a gente for falar das periferias, o buraco é muito mais embaixo. Para as mães solo que lutam pela sobrevivência todos os dias não há tempo ou sequer um companheiro ao lado para discutir o machismo cotidiano.

Temos então uma geração de mulheres sobrecarregadas. As que trabalham fora enfrentam jornadas triplas porque não têm uma parceria justa com os maridos. Já as donas de casa se sentem desvalorizadas e cansadas.

Vivemos a quarta onda do feminismo. O assunto voltou à tona graças às redes sociais. E eu confesso que passei a me interessar mais sobre o tema depois que virei mãe e senti muitos preconceitos na pele. Acredito que eles já me acompanhavam há muito tempo. Mas minha tomada de consciência só veio nos últimos anos. Então, sou mãe e feminista, sim! Mas não sou perfeita. Ainda estou aprendendo a me livrar de antigos condicionamentos da infância e da vida adulta.

Espero que assim eu me transforme numa mãe que consiga ensinar aos meus filhos sobre igualdade. O feminismo não quer acabar com a família brasileira. Ele quer libertar. Nossos filhos e filhas só vão viver numa sociedade igualitária se dermos o primeiro passo. E a hora é agora.

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