Brincar

Brincar

A Clara, minha caçula, andava mais agitada do que o normal. Chegava da escola e pedia pra ficar do meu lado na cozinha. Chorava se não recebia atenção. Fazia birra no jantar e no banho.

Primeiro, eu me irritei com ela. “Puxa, deixa a mamãe cozinhar, filha!” “Deixa a mamãe no computador, vai ver um desenho.” Deixa isso, deixa aquilo. Ela não queria me deixar com as tarefas. Ela me queria.

Precisou alguns dias para eu perceber que estava brincando pouco com ela. Brincar é nossa última fronteira entre a infância e a vida adulta. A gente se esquece de brincar depois que crescemos. Vem a dureza do cotidiano, das contas pra pagar, dos desafios no trabalho e na carreira.

As brincadeiras desaparecem. O lúdico dá lugar ao real. E isso não é ruim, faz parte do nosso amadurecimento como seres humanos. Mas depois que temos filhos, sobrinhos, netos…  surpresa! O brincar reaparece.

 

 

E a gente costuma fugir das brincadeiras. Sempre ocupados com alguma tarefa de casa, com o trabalho ou até com as redes sociais que roubam nosso tempo com as crianças.

Mas eles não são bobos. Eles nos querem por perto. Inteiros. Disponíveis.

Eu percebi que minha filha queria meu tempo. Então, a Clara me chamou para brincar de boneca no quarto dela. E brincamos. De boneca, de fantasia e de dançar. Rodopiando no quarto, fingimos que éramos fadas, bruxas e piratas. Cantamos, rimos. E eu me emocionei. Porque é um tempo que não volta. Mas como é difícil a gente perceber isso todos os dias, não?

Sem comentários

Poste um comentário