#Cargamental

#Cargamental

Placa-mãe de computador: uma máquina de armazenar dados e manter tudo funcionando. É como eu me sinto às vezes.  São tantas informações para guardar que minhas panes têm sido mais frequentes.

Sei quais são os cosméticos que estão acabando. Quais as comidas que as crianças enjoaram. As roupas deles que não servem mais. Os materiais de escola que estão acabando. O tratamento dentário e os exames que atrasaram. Eu podia continuar essa lista, mas não quero aborrecer vocês!

O que eu percebi é que nenhum dos itens diz respeito diretamente a minha individualidade. Sou uma mãe escorpiana controladora e afetiva até a raiz branca do cabelo, o que só complica as coisas. Por mais que eu divida a carga com o meu parceiro, por mais que a dedicação aos nossos filhos seja a mesma, ele sabe e eu sei: minha carga mental é maior.

É uma carga que nós mulheres somos condicionadas a carregar desde a infância. E limita os nossos pensamentos. Isso porque carga mental é diretamente proporcional ao pouco tempo para pensar em si mesma. Das incoerências que só a maternidade proporciona!

E assim vai. A cabeça de mãe não para. Tenho dificuldades para dormir e já levantei várias vezes de madrugada para tirar mistura do congelador ou pôr feijão de molho.

Ah, e as aulas online na quarentena? Um capítulo à parte na vida das mães. O Rafael, meu mais velho, tinha várias lições de casa atrasadas e atividades manuais que exigiam minha participação. Nós dois piramos. Nem todas as mães têm habilidade com cola e tesoura. E eu sou uma delas! Ah, eu gostaria de dizer ao mundo com um megafone: “AS MÃES QUE FICAM EM CASA ESTÃO TRA-BA-LHAN-DO!” Será que é mais fácil desenhar?

A cartunista francesa Emma achou que sim e fez uma série emblemática sobre carga mental. Clique aqui para ler.

Por tudo isso e meus hormônios na perimenopausa, eu surtei legal em 2020. Um dia, o Rafa começou a chorar porque não dei conta de montar figuras geométricas de papel em 3D com ele. E eu chorei pela minha incompetência. Deixamos pra lá.

Descemos no parquinho do condomínio, eu, ele e a Clara. Brincamos de pega-pega e de balançar. Na volta, comemos bolo de cenoura. Rimos. Nos acalmamos. E é assim. Um dia de cada vez.

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