Corpo em movimento

Corpo em movimento

Eu fui uma criança e uma adolescente com sérias dificuldades com o esporte. O pior eram as aulas de educação física. Eu não sabia correr. Ficava toda atrapalhada com uma bola nas mãos. Era a última a ser escolhida para o time de vôlei. Nas aulas de ginástica rítmica, parecia um robô. Por isso, sofri um bullying desgraçado nessa fase da vida.

Meu pai é deficiente físico. A paixão dele é o cinema. É a forma que ele encontrou de conhecer o mundo: da poltrona de casa. Nossa conexão nunca pôde ser um esporte, mas os filmes. Por isso, eu ficava sentada horas ao lado dele     assistindo aos clássicos de Hollywood ao invés de correr com as outras crianças.

No final da adolescência, comecei a praticar natação e me encontrei. Na piscina, não tinha garota chata me enchendo com bolada no rosto. Não tinha ninguém rindo de mim. Era só eu e as braçadas do crawl, do costas. A beleza orquestrada do nado peito. As borboletadas que me levavam para longe de tudo.

Comecei a trabalhar e me distanciei da natação. Como jornalista, passei a ficar muito tempo sentada. Dessa vez, na frente do computador. Vieram os problemas na coluna que me perseguem até hoje.

Por isso, aos trinta, tentei o yôga. E me apaixonei. Hoje, é a prática que eu mais amo e na qual quero me aprofundar.

Durante o período sabático que tirei com os meus filhos, a primeira coisa que fiz foi me matricular numa escola de yôga. Pratico menos do que eu gostaria, mas é tudo uma questão de tempo.

Outro dia, me dei conta que nunca me movimentei tanto quanto agora: yôga, caminhadas, brincar com crianças pequenas, horas em pé na cozinha…

Meu corpo percebeu a mudança e, às vezes, reclama. Há pouco tempo, descobri um problema no joelho que me tirou da corrida e tive uma crise de lombalgia que me levou para a fisioterapia.

Para entrar em movimento é preciso muito mais do que tempo. Esporte exige garra, disciplina, vontade.

Mas eu percebi que não quero mais ficar ali na poltrona, vendo os mesmos filmes da minha infância. Quero agora fazer as posturas mais malucas do yôga, levantar peso por questão de honra e caminhar por trilhas que eu ainda não conheço. Então, vou em frente.

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