28 set #5
Dá para viver muitas vidas em uma? E em cinco anos? Dá para mudar completamente de vida?
É só chegar o aniversário dos meus filhos que eu fico pensativa. Cinco anos! É a idade que meu filho mais velho, o Rafael, completou hoje. Caramba, essas datas mexem comigo!
Um quê de nostalgia toma conta de mim. Lembro-me de tudo que já vivi desde que eles nasceram. As mudanças internas e externas, as crises, os bons momentos. Uma fase repleta de amor. A dor eu prefiro esquecer e transformar em aprendizado. Afinal, é disso que a maternidade se trata, não é mesmo? APRENDER!
Aprender a cuidar do outro, mas também a se cuidar. Aprender a ser firme quando necessário, sem deixar de lado o equilíbrio. Aprender a pedir ajuda e a agradecer. E aprender que tudo passa tão rápido que é preciso valorizar o presente, sempre.
Eu me lembro da mulher de trinta e poucos anos assustada num corredor de laboratório, usando uma daquelas roupas hospitalares. Eu demorei três anos pra engravidar do Rafael. E um dia desses, sentada no laboratório, esperando para fazer o vigésimo exame ginecológico da vez, eu tive medo. Medo de não conseguir ser mãe. O maior sonho da minha vida.
Mas foi um sonho que para mim virou realidade e tudo do avesso. Desde então, já mudei de casa, de bairro, de rotina. Pedi demissão e virei dona de casa. Problemas que eu valorizava demais ficaram pequenos. E outros, muito maiores, surgiram.
Só que é impressionante como a maternidade traz consigo força, fé e coragem. Sim, é difícil, áspero, solitário. Os inúmeros textos de maternidade real na internet mostram tudo isso. Mas eu sempre me apego mesmo ao que é bom.
À noite, quando a casa para e está tudo em silêncio, às vezes, claro que me bate uma angústia. Será que essa é mesmo a vida que eu queria?
Lembrei-me do livro da antropóloga israelense Orna Donath, “Mães Arrependidas, uma outra visão da maternidade”. Ela ouviu o relato de várias gerações de mulheres que se arrependeram de serem mães. Muitas se deixaram levar pelas convenções sociais e o medo de ficarem pra “titia”. Arrependeram-se de ter filhos e mesmo amando muitos a prole, trilhariam outro caminho se pudessem escolher pela segunda vez.
Então, eu fiquei pensando: será que eu sou uma mãe arrependida? E isso me fez perder o sono e o bom humor.
Hoje, compramos bolo, docinhos e cantamos parabéns para o Rafa. A prima dele, a Isadora, que nasceu dias depois do Rafael, veio dormir aqui em casa e comemorar conosco. Então, fiquei o dia todo com três crianças em casa: o Rafa, a Isadora e a Clarinha, minha caçula de dois anos e meio.
Eu acho o barulho de crianças rindo e correndo pela casa uma delícia. Brincar junto com eles é divertido. Ver meu pai, um senhor sisudo de oitenta e poucos anos com um baldinho de areia na cabeça, rindo das peripécias da neta, enche meu coração de alegria.
Não sou uma mãe arrependida. Por vezes, sou a mãe estressada. A mãe sobrecarregada. A mãe neurótica. A mãe protetora. A mãe palhaça. A mãe amorosa. Mas entre essas minhas facetas não sobra espaço para a mãe arrependida. Dentro de todas as vidas que eu podia escolher, escolhi a certa. E é isso que acalma meu coração.
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