Invisível

Invisível

Quando uma mãe decide ficar em casa com os filhos ela se torna invisível. Ninguém mais quer saber a opinião dela. Afinal, é uma dona de casa. Seus espaços de poder se resumem à cozinha e ao tanque.

Ela é a primeira a acordar e a última a dormir.

Prepara o leite morno, os lanches e as comidas preferidas dos filhos.

Lava as meias encardidas até as feridas surgirem nos dedos.

Leva e busca na escola.

Ajuda a fazer as lições de casa.

Dá banho, cuida da higiene e das roupas dos pequenos.

Faz isso tudo e muito mais. Porque ela ainda quer se sentir viva. Então, arruma tempo para ir à academia, à aula de yôga e ao cabeleireiro. Também estuda porque quer aproveitar o tempo em casa com os filhos para se reinventar e ganhar um dinheiro extra.

Mesmo assim, todos a julgam:

“Nossa, estudou tanto pra isso?”

“Ela é sustentada pelo marido.”

“Não sei o que ela faz o dia todo.”

Nossa sociedade capitalista-patriarcal-misógina só acolhe as mulheres enquanto elas produzem força de trabalho mal remunerada e silenciosa. A maioria engole seco as explorações e os assédios no ambiente de trabalho para se sustentar. Poucas ainda conseguem alcançar os cargos de poder.

Mas quando muitas viram mães o grito por liberdade preso por tanto tempo na garganta insiste em sair. Porque MÃES entendem o verdadeiro significado da palavra “EFÊMERO”. As crianças crescem muito rápido. Tudo passa num sopro. E não há tempo para uma vida em diminutivo.

Quando eu pedi demissão de um emprego formal para abraçar a maternidade eu sabia que me tornaria invisível para alguns. Mas eu tinha um sonho: queria ser livre.

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