06 mar Pensar sobre feminismo
Eu nunca pensei muito sobre feminismo. Toda vez que chegava o dia internacional da mulher, eu ouvia algumas amigas comentarem o quanto aquela data era ridícula. Afinal, não existe “dia do homem”. Se existe igualdade, por que as mulheres precisam de uma data?
Será que é porque essa igualdade ainda é uma ilusão?
Eu nunca pensei muito sobre feminismo. Até virar mãe. É quando a gente sente na pele que têm menos direitos e mais deveres do que imagina. São tantas cobranças e tão poucos olhares de empatia da sociedade, das empresas, do governo.
A mulher-mãe é a mulher que precisa ser “maravilha”. Multitarefas, multiuso. Boa mãe, boa mulher, boa profissional, boa dona-de-casa.
Ah, não pode engordar no meio disso tudo, viu “menina”?
Afinal, é o preço que se paga por sonhar com a maternidade. Abrir mão de si mesma para equilibrar o mundo numa balança.
Fechar os olhos para as diferenças de salário entre homens e mulheres. Pensar que melhor do que uma promoção seria conseguir um horário mais camarada para conseguir buscar os filhos na escola. Saber que faz algo tão bem, ou melhor, do que um colega homem, mas É ELE quem vai ganhar aumento, simplesmente porque você é MULHER e MÃE.
Eu nunca pensei muito sobre feminismo. Até envelhecer. E perceber o quanto a beleza de um corpo jovem e feminino é uma moeda de valor na nossa sociedade.
Os assédios na rua, no trabalho, na balada. Muitas vezes, a imaturidade nos impede de nomeá-los. O tempo nos faz ver que enquanto eles existirem, as diferenças vão existir.
Eu nunca pensei muito sobre feminismo. Até virar dona de casa. E sentir como o diferente pode ser assustador também para outras mulheres. Dona de casa no século vinte e um sofre um preconceito do caramba!
Frases das próprias mulheres: “Ela não faz nada”. “O marido a sustenta.” “Virou madame”.
“Ela não pode ser feminista, é dona de casa”!
Estamos vivendo a quarta onda do feminismo. As mulheres ganharam o direito de votar, de trabalhar e a liberdade sexual. Mas não se libertaram de rivalidades ancestrais, que as impedem de enxergar as outras como irmãs.
Não julgue as escolhas da sua mana.
Ouça. Acolha.
Lugar de mulher é onde ela quiser.
Eu nunca pensei muito sobre feminismo. Até ser mãe de menino e de menina. Eu olho para os meus dois filhos e sonho com um mundo IGUAL para homens e mulheres. Um mundo onde o Rafael e a Clara tenham as mesmas oportunidades. E sejam quem quiserem ser.
Quando eu comecei a pensar sobre feminismo, concluí que a igualdade é uma mentira. E que as coisas só pioram se você é mulher, mãe, negra e pobre. Sou uma mãe branca de classe média e sei que meus problemas não são nada perto do que muitas mulheres passam por aí.
Por isso, é preciso pensar sobre feminismo.
Para que as coisas mudem.
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