06 fev Ser bonita é ser livre
Eu fui uma menina estranha. Daquelas tímidas, que tem poucas amigas e vergonha até do próprio reflexo no espelho. Meus pais não me ensinaram nada sobre autoestima. Pelo contrário. Acho que herdei a baixa autoestima deles. Sempre recebi críticas pela minha aparência desajeitada e os cabelos finos e rebeldes. Os dentes tortos e o rosto cheio de espinhas também não ajudavam muito.
Cresci, assim como muitas meninas, sob a era da ditadura da beleza, dos tratamentos estéticos, das cirurgias salvadoras. Eu mesma fiz uma plástica de nariz com o dinheiro do meu primeiro salário!
Só hoje, depois dos quarenta, estou aprendendo a me amar. E a dizer foda-se! Um foda-se para o silicone que iria empinar os meus seios que amamentaram por cinco anos. Um foda-se para o botóx e o monte de químicas que iriam exterminar as minhas rugas. Um foda-se para as lipos e todas as intervenções estéticas.
Hoje o que me orgulha é ver o novo movimento que tomou conta das redes sociais: o da aceitação do próprio corpo. Eu vejo isso com muito entusiasmo e orgulho das manas que estão encarando a indústria da beleza de frente. Mulheres, muitas delas mães, que finalmente passaram a aceitar seus corpos e expô-los nas praias, nas piscinas, nas redes sociais. Sem filtro, sem edição, sem regimes malucos.
Ainda é um movimento tímido, num país que é conhecido como campeão mundial dos gastos com aparência.
Para mim, essa autoaceitação das mulheres é muito importante. Faz parte do início de um processo de cura do feminino, tão explorado e abusado há décadas. Depois de ler o livro “Manual de Introdução à Ginecologia Natural”, da escritora e parteira chilena Pabla Pérez San Martín, descobri que não basta curar a relação com a nossa casca. A gente precisa de um mergulho mais profundo: de entender e curar quem somos por inteiro.
Estou nesse mergulho há mais de três anos. O processo tem sido gradual: comecei cuidando da minha saúde e passei por uma reeducação alimentar. Depois que me senti fortalecida, voltei a me exercitar e buscar tratamentos e terapias naturais. Minha caminhada só está no começo.
Eu, assim como outras mulheres, venho de décadas de abusos emocionais, baixa autoestima e falsas crenças. Não é fácil curar nosso feminino. Às vezes, tenho recaídas. Mas eu tenho fé que um dia vou me sentir uma mulher livre de verdade, sem encanações com o meu corpo. Livre do que a indústria me manda vestir, comer, consumir. Livre do que os outros me mandam ser.
O que eu já percebi é que para chegar lá é preciso rever nossa alimentação, nossas relações sociais e familiares tóxicas, entender o funcionamento biológico do nosso corpo, com base nos ensinamentos da ginecologia natural (O tal empoderamento é isso! A consciência de quem você é e onde está inserida).
Existem dezenas de mulheres fantásticas falando sobre esses assuntos nas redes sociais e nos livros.
Ser bonita tem a ver menos com padrões e mais sobre ser livre. E liberdade é muito sexy, não acham?
Sem comentários